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Sobre a renúncia do Papa Bento XVI e o Brasil.

 

 

A Igreja Católica tem 1,2 bilhões de seguidores/fiéis no mundo e o Brasil é o maior país católico da terra. O papa é o Sumo Pontífice, a autoridade máxima, tanto espiritual, quanto política. Sob o aspecto espiritual, a Igreja Católica tem sua própria doutrina, a qual se renova de tempos em tempos e se inspira em Jesus Cristo, filho de Deus e na Bíblia, considerada a palavra de Deus. Os integrantes da Igreja são formados em seminários e alguns se transformam em intelectuais e exímios teólogos, entre eles o próprio Bento XVI, fundamentados na filosofia cristã, a qual tem como essências a dignidade da pessoa humana, a vida, a igualdade, a fraternidade, a humildade, a misericórdia, a compaixão, o amor ao próximo, a fé em Deus, entre outros, ou seja; os princípios cristãos são humanistas e ideais dos direitos fundamentais concretizados pelo Estado do Bem Estar Social ou direitos humanos da segunda geração.

Do ponto de vista do poder político, o papa é uma espécie de rei ou monarca do Vaticano, inspirado na doutrina do “direito divino” ou do absolutismo, embora siga as regras do direito canônico e não há hereditariedade do trono. O Vaticano é uma Cidade-Estado, encravada dentro de Roma/Itália, assim é um país soberano, sendo que o papa exerce os poderes legislativo, executivo e judiciário por meio de representantes nomeados por ele, ouvidos os cardeais, que são os seus conselheiros. A rígida hierarquia política e espiritual da Igreja Católica é a seguinte: o papa, os cardeais,  os arcebispos,  os bispos e os padres. Os leigos/fieis não tem poder de decisão política, embora o concílio Vaticano 2º, encontro convocado por João XXIII, com a participação de 2.500 religiosos, entre 1962/65, tentou adaptar o catolicismo à realidade atual e daí surgiu a doutrina da Teologia da Libertação e a possibilidade da criação das Comunidades Eclesiais de Base com ampla participação dos leigos, os quais questionaram a estrutura arcaica da administração do Vaticano e os rituais litúrgicos, mas foi superada com a ascensão dos conservadores João Paulo II e Bento XVI. As ordens do papa são infalíveis, isto é; não podem ser contestadas ou juridicamente descumpridas pelas instâncias inferiores da Igreja, mas ele é sujeito a influências políticas e doutrinárias dos seus conselheiros e também existem diversas correntes doutrinárias entre cardeais, bispos e padres, sendo que de tempos em tempos surge um grupo doutrinariamente hegemônico dentro da Igreja. Uns mais progressistas ( João XXIII, Paulo VI, João Paulo I) e outros mais conservadores (João Paulo II e Bento XVI). Entretanto, a unidade, a identidade e a “vitaliciedade” do poder do papa estão muito mais sustentadas no seu carisma, na fé e na obediência dos hierarquicamente subordinados, num gesto de humildade, que nas regras jurídicas em si. A Igreja Católica tem mais de 2000 mil anos de existência e, assim, é uma das instituições mais antigas da humanidade, a qual teve a capacidade de passar por centenas de transformações culturais e políticas, por guerras e revoluções. O pontificado/reinado do papa é vitalício, a renúncia/ abdicação ou a deposição é a exceção da regra.

O primeiro a ocupar o trono de papa foi são Pedro, que é o fundador da Igreja Católica Apostólica Romana, sob as bênçãos de Jesus Cristo. Dos 262 papas, apenas 9 renunciaram ou foram depostos. A última renúncia tinha sido em 1415, a de Gregório XII, sendo que a primeira foi a de Clemente I. Veja a ordem das renúncias: Clemente I, 101; Ponciano, 235; Marcelibo, 304; Martinho I,655; Bento V,964; Bento IX,1045; Gregório VI, 1046; Celestino V, 1294; Gregório XII,1415; Bento XVI,2013!

Como dito, o papa tem grande poder sobre a política e a doutrina espiritual da Igreja. Entretanto, as questões administrativo-políticas são por ele delegadas aos cardeais próximos ao poder no Vaticano, sendo a grande maioria italianos e de outros países europeus. O atual responsável pelas funções administrativo-políticas é o cardeal italiano Tarcisio Bertone (secretário de Estado), além de cardeais responsáveis pelos tribunais e pelas congregações, ofícios e conselhos pontifícios. Estes religiosos disputam a influência sobre o papa e o poder na Igreja de 5.100 bispos, 412 mil padres, 39.500 diáconos e 1,2 bilhão de leigos. Entretanto, o dia a dia do Vaticano é um verdadeiro ministério que levaram à edição de livros e filmes de tudo quanto é gosto, os quais criam fantasias e até descrevem a realidade de diversos escândalos, como o vazamento de documentos sigilosos colocados em público pelo mordomo do papa!

A hegemonia política e a doutrina espiritual da cúpula do Vaticano, embora juridicamente obrigatórias pelas normas do direito canônico, pelo juramento de obediência dos religiosos hierarquicamente subordinados, como no regime da disciplina e hierarquia e pela infalibilidade das ordens do papa, nem sempre são colocadas em prática  por todos os cardeais, bispos e arcebispos, pois, como em quaisquer outras instituições, existem diversidades  culturais, de pensamento, filosóficas e de interpretações dos textos bíblicos, de documentos e das encíclicas, livre arbítrio dos seres humanos, além das influências dos fiéis das comunidades onde a doutrina é concretizada pelos religiosos. Portanto, a realidade do Vaticano, nem sempre é a realidade das comunidades das dioceses dos bispos e das paróquias dos padres. Assim, nunca houve hegemonia absoluta das doutrinas conservadoras ou progressistas, pois a rebeldia e os focos de resistências são reais.

Sente-se na cúpula da Igreja uma maioria de italianos e de outros países da Europa. Os africanos e latino-americanos são poucos. Nunca um católico da África ou da América Latina ascendeu ao papado, mesmo que somados tenham a maioria dos católicos do planeta, sendo que o Brasil é o maior país católico do mundo, seguido pelo México. Assim, chegou a hora da renovação, da aproximação do Vaticano com as bases da Igreja para a abertura de espaços para a participação real dos leigos. Talvez, a renúncia de Bento XVI possa abrir o caminho para a renovação e para um papa brasileiro.

Penso que o arcebispo da arquidiocese de São Paulo, dom Odilio Scherer é um grande católico, equilibrado, que conseguiria renovar a face da Igreja, manter a sua necessária unidade e chamar os homens e mulheres da terra para uma reflexão sobre os ensinamentos de Jesus Cristo, entre os quais a dignidade da pessoa humana, a vida, a igualdade, a compaixão, a humildade, o amor ao próximo, a fraternidade.

O povo brasileiro tem a capacidade do diálogo. Um papa brasileiro teria condições de dialogar com as comunidades da América, da Europa, da Ásia e, especialmente da África, pois somos um país de muitas origens  étnicas e culturais.

 

 

 

Última atualização em Sáb, 16 de Fevereiro de 2013 13:54
 
 

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